Por Uma Intelectualidade Cristã!







terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

QUE TINHA DEUS NA CRUZ?


Que tinha Deus na cruz?
Não tinha os movimentos das mãos nem dos pés.
Podia, contudo, mover a cabeça.
O que tinha na cabeça? Uma coroa de espinhos
E quanto pôde aquela adorável cabeça ferida!
Moveu-a para o lado: prometeu o Paraíso;
Moveu-a para baixo: “eis aí tua Mãe”;
Moveu-a para cima: entregou o espírito.

Tinha o seu sangue e o derramou.
Tinha o Coração e o entregou para ser ferido.
Que mais tinha?
Dor, desconforto, sede, tristeza...
Tinha sua voz que perdoou, abençoou, clamou...

Tinha tão pouco à mostra e tanta coisa escondida:
Os sacramentos que brotavam do seu lado transpassado;
A Redenção que então se consumava;
A Igreja que ali nascia...

Por um lado na Cruz Ele nada tinha,
Pois por completo se doava;
Por outro lado na Cruz tinha tudo,
Pois o amor tudo é.

Que mais tinha Deus na cruz?
Tinha a mim em seu Coração
E me amava...
Tinha a mim a seus pés,
Mas a ofendê-lo
E por fim, tinha-me ao lado...
Arrependido.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A RESPEITO DA CONTROVÉRSIA ENVOLVENDO A SUPOSTA CURA DE UM PEDÓFILO MEDIANTE O USO DE PROSTITUTAS


             Gostaria de dar minha contribuição a respeito de uma controvérsia moral que tem dado muita discussão entre católicos nos últimos dias. Trata-se da suposta cura de um pedófilo. Tal pedófilo teria procurado[1] um famoso psiquiatra que, para eliminar deste paciente seu desejo por crianças, teria recomendado um esdrúxulo tratamento baseado no uso de prostitutas. O resumo dos fatos é o seguinte: um homem com tendências à pedofilia que nunca tinha executado o ato, mas temia que viesse a fazê-lo, procurou o psiquiatra. Devido aos seus desejos desordenados pensava em suicídio. O psiquiatra chegou à conclusão de que seu paciente deveria experimentar prazer sexual com uma “figura infantil” que não fosse criança, no caso uma prostituta adulta que fosse fisicamente semelhante a uma criança. Num segundo momento a prostituta escolhida deveria afastar-se um pouco da semelhança infantil e assim gradativamente até que o paciente chegasse a ter desejo por mulheres adultas e não mais por crianças. O tratamento teria durado aproximadamente seis meses. Os parágrafos que se seguem destinam-se a provar que a conduta do psiquiatra foi imoral e de eficácia altamente duvidosa.
            O agir moral baseia-se nos princípios ensinados por Nosso Senhor Jesus Cristo através da Igreja (dez mandamentos, leis da Igreja etc.), a aplicação desses princípios nos casos concretos deve ser guiada pela virtude da prudência, de modo que alguém prudente é alguém que sabe aplicar os princípios morais nas situações que a vida apresenta. O caso em questão gera disputas intermináveis devido ao fato de que o expediente utilizado pelo psiquiatra teria levado à cura do indivíduo, o que leva a pensar que houve ali uma opção pelo mal menor. Ora, o princípio do mal menor não se aplica ao caso, pois tal princípio diz que diante de males inevitáveis escolhe-se o menor; o uso de prostitutas não era a única saída e, portanto, não pode ser considerado o mal menor, isto é, não era “inevitável” o uso de prostitutas para resolver o problema do paciente. Além disso, ainda que o único meio de auxiliar o paciente fosse recomendando o uso de prostitutas, tampouco seria lícito porque tal recomendação opor-se-ia ao princípio de que os fins não justificam os meios. Não se pode fazer algo intrinsecamente imoral mesmo que disso advenha uma boa conseqüência, por exemplo: não se pode mentir para converter alguém. O procedimento do psiquiatra contrariou tal princípio, pois o fim (curar a pedofilia) justificaria o meio utilizado (uso de prostitutas), o que é inaceitável. Ele fez um mal (recomendou um pecado) para atingir um bem (a cura). Por meio desses raciocínios, relativamente simples, chega-se à conclusão indubitável de que o tratamento recomendado foi moralmente ilícito.
            Quanto à eficácia do tratamento começarei contando uma anedota que ouvi de um amigo. Um sujeito era viciado em cigarros e resolveu seguir a sugestão de um amigo que lhe disse para pôr um palito de dentes na boca toda vez que tivesse vontade de fumar; posteriormente seguiu outra sugestão que lhe dizia para colocar na boca uma bala de hortelã com o mesmo propósito. Resultado: o sujeito terminou com três vícios: cigarro, palito e bala de hortelã. Mutatis mutandi essa piada aplica-se ao caso, veja: o psiquiatra diz que seu paciente foi curado, mas alguns instantes de reflexão são suficientes para que duvidemos dessa cura. A considerar os fatos como verdadeiros, de fato despertou-se no paciente o desejo por mulheres adultas, mas seria preciso saber se tal desejo (por mulheres adultas) já existia, pois se já existia não se pode atinar por que tal expediente teria provocado a cura; se o desejo por mulheres adultas não existia e foi despertado através do tratamento tampouco nos leva a concluir pela eficácia da cura. Os dois tipos de desejos podem coexistir, pois não é absolutamente necessário que um anule o outro. Sendo assim, o que nos impediria de pensar que o que ocorreu foi apenas uma distração momentânea? O foco de desejo pode ter sido apenas momentaneamente desviado. Citando Carlos Nougué devemos dizer que um vício não pode ser curado com outro vício, mas tão somente com a virtude oposta. Levando em conta que a virtude é a única garantia de cura, fica difícil acreditar que o paciente tenha sido solidamente curado e nada nos impede de dizer que há sim a probabilidade de que tenha saído desse tratamento pior do que entrou.
            Há também algumas inconsistências na própria narração. O tratamento teria durado seis meses. Ora, se o indivíduo já estava desesperado e pensando em suicídio, temendo que expressaria em ato seus desejos desordenados como pôde aguentar seis meses?! Será que apenas a frequência ao prostíbulo seria capaz de mantê-lo afastado de cometer o nefando crime de consumar a pedofilia, tendo em vista que ainda não estava plenamente curado? O que mais foi feito em seu tratamento?
            Não sei absolutamente nada de psiquiatria, o que trato aqui é apenas a parte moral. Porém, nessa discussão toda uma pergunta se impõe: como o psiquiatra deveria ter agido? Sei que a forma como ele agiu está errada por ter ferido gravemente os princípios morais, mas sugerir como deveria ter agido enquanto psiquiatra realmente não sei e não cabe mim sabê-lo. Ainda assim cogito algo que poderia ter sido feito durante o tratamento, uma ação bem óbvia na verdade. Enquanto durasse o tratamento (feito sem ferir os princípios morais) o psiquiatra poderia ter prescrito ao paciente que colocasse alguém de sua inteira confiança para vigiá-lo, não permitindo que ele chegasse perto de nenhuma criança.


[1] Não cabe a mim apurar a veracidade dos fatos, trato aqui apenas da controvérsia moral em si. Baseio-me na narrativa dada pelo próprio psiquiatra.