A
liberdade de expressão é um dogma da modernidade. Ele impõe que as ideias,
pensamentos, teorias, manifestações artísticas, protestos, gestos podem ser
expressos e propagados independentemente da sua correção moral e da sua
veracidade. É o desprezo puro e simples das leis morais e da verdade; é a
exaltação abjeta de uma falsa liberdade; é o desprezo ao Criador e a exaltação
vergonhosa da criatura; é o desprezo ao dever e o amor desenfreado ao prazer; é
falta de humildade e louvor do orgulho; falta de boa vontade; cegueira
colossal.
Esse dogma é utilizado para propagar
todo tipo de perversão e, por fim, acaba por perseguir aquilo que é certo. Num
primeiro momento parece permitir a manifestação de ideias boas e más; mas com o
tempo, devido ao progresso do mal, que costuma crescer mais rápido, acaba por
se revelar como uma terrível farsa: o belo, o verdadeiro, o justo, o puro
passam a ser perseguidos e os seus contrários passam a ser exaltados como os
únicos que possuem o direito de existir. O exemplo do Levi Fidelix prova isso
claramente[1].
Há um livro altamente recomendável
para quem quiser se aprofundar neste assunto: “Do Liberalismo à Apostasia – A
Tragédia Conciliar” escrito por Mons. Marcel Lefebvre, editora permanência. O
capítulo XI trata da liberdade de imprensa e merece ser citado na íntegra:
CAPÍTULO
XI – A LIBERDADE DE IMPRENSA
“Liberdade
funesta e execrável,
verdadeira opressão das massas.”
Leão XIII
Se o leitor continuar a ler os documentos papais, um após
outro, verá que todos disseram o mesmo sobre as novas liberdades nascidas do
liberalismo: a liberdade de consciência e de cultos, a liberdade de imprensa, a
liberdade de ensino, são liberdades envenenadas, falsas liberdades: porque o
erro é sempre mais fácil de difundir do que a verdade, o mal é mais fácil de
ser propagado do que o bem. É mais fácil dizer às pessoas: “podem ter várias
mulheres” do que dizer: “só podem ter uma durante toda suas vidas”; logo é mais
fácil estabelecer o divórcio como um “contrapeso” ao casamento! Assim também,
deixem indiferentemente se propagar na imprensa o certo e o errado e verão com
certeza o errado ser favorecido às custas da verdade.
Atualmente gostam de dizer que a verdade faz seu caminho
somente com sua força intrínseca, e que para ela triunfar não necessita da
proteção intempestiva e molesta do Estado e de suas leis. Se o estado favorece
a verdade, grita-se logo à injustiça, como se a justiça consistisse em manter
equilibrada a balança entre o verdadeiro e o falso, entre a virtude e o
vício... Está errado! A primeira justiça é favorecer o acesso das inteligências
à verdade e preservá-las do erro. É também a primeira caridade: “veritatem
facientes in caritate”. Na caridade, façamos a verdade. O equilíbrio entre
todas as opiniões, a tolerância de todos os comportamentos, o pluralismo moral
ou religioso, são as características de uma sociedade em decomposição, que é a
sociedade liberal procurada pela maçonaria. Ora, foi contra o estabelecimento
de uma tal sociedade que os Papas que citamos reagiram sem cessar, afirmando o
contrário, que o Estado, o Estado católico em primeiro lugar, não tem o direito
de dar tais liberdades, como a liberdade religiosa, a liberdade de imprensa ou
a liberdade de ensino.
A
Liberdade de Imprensa
Leão
XIII lembra ao Estado seu dever de temperar com justiça, ou seja, de acordo com
as exigências da verdade, a liberdade de imprensa:
“Continuemos agora essas
considerações sobre a liberdade de exprimir pela palavra ou na imprensa tudo o
que se quer. Sem dúvida, se esta liberdade não é temperada pela boa medida, se
ela ultrapassa os limites e a medida, uma tal liberdade, evidentemente, não é
um direito, pois o direito é uma faculdade moral. E como nós já dissemos e
devemos sempre repetir, seria absurdo pensar que esta faculdade pertence
naturalmente e sem distinção nem discernimento à verdade e à mentira, ao bem e
ao mal. A verdade, o bem, pode-se propagá-los no Estado com uma liberdade
prudente para que um maior número seja beneficiado; mas as doutrinas falsa,
peste mortal para as inteligências, os vícios que corrompem os corações e os
costumes, é justo que a autoridade pública os reprima com diligência, para impedir
que o mal se estenda e corrompa a sociedade.
E
as maldades das mentes licenciosas que redundam em opressão da multidão
ignorante não devem ser menos punidas pela autoridade das leis[2]
que
qualquer atentado da violência cometido contra os fracos. E essa repressão é
tanto mais necessária quanto mais indefesa é a grande maioria da população,
impossibilitada de se defender contra esses artifícios do estilo ou as
sutilidades da dialética, principalmente quando tudo isto excita as paixões. Dê
a todos a licença ilimitada de fala e escrever e nada mais será sagrado e
inviolável, nada será poupado, nem mesmo estas verdades primeiras, estes
princípios naturais que devemos considerar como um nobre patrimônio comum a
toda a humanidade. A verdade é assim invadida pelas trevas e nós assistimos,
como tantas vezes, o fácil estabelecimento e a plena dominação dos erros os
mais perniciosos e os mais diversos.” (Libertas Praestantissimum, Leão XIII)
Nós já vimos como o Papa Pio IX, antes de Leão XIII,
estigmatizou a liberdade de imprensa no Syllabus (proposição 79). Já Gregório
XVI o fizera na encíclica “Mirari Vos”:
“Aqui tem lugar aquela
péssima e nunca suficientemente execrada e detestada liberdade de imprensa que
alguns homens ousam, com tanto barulho e insistência, pedir e espalhar. Ficamos
horrorizados, Veneráveis Irmãos, ao contemplar com que monstruosas doutrinas,
ou melhor, de que monstruosos erros nos vemos cercados. Erros espalhados ao
longe e em toda parte, por imensa quantidade de livros e folhetos, pequenos em
seus volumes mas enormes em sua malícia, de onde corre essa maldição que cobre
a face da terra e nos faz chorar. E por desgraça há quem levado a tal
descaramento, afirme que esta avalanche de erros, nascida da liberdade de
imprensa, seja plenamente compensada pela publicação de alguns livros escritos
para defender, no meio desta tempestade de perversidade, a verdade da
religião.”[3]
E aí aparece, desmascarado pelo Pontífice, o
pseudo-princípio liberal da “compensação”, que pretende que se deva compensar a
verdade pelo erro e vice-versa. Como veremos, esta idéia é o primeiro princípio
daqueles que se chamam “católicos liberais”, que não suportam a afirmação pura
e simples da verdade e exigem que ela seja contestada imediatamente por
opiniões opostas; e reciprocamente julgam que não há nada a censurar na livre
difusão dos erros, contanto que a verdade possa se fazer ouvir pelo menos um
pouco! É a constante utopia dos liberais ditos católicos, que voltaremos a
tratar adiante.
A liberdade de expressão é a negação
dos direitos de Deus e a promulgação de um pseudo direito. A mera possibilidade
de se fazer algo não configura um direito. Por exemplo: é possível roubar, mas não há o direito
de roubar; dessa forma podemos concluir que o erro não possui direitos.
Sendo assim, esses “artistas” não possuem o direito de produzir essas
excrescências que ousam chamar “arte”.
Muitos se opuseram por ocasião da
exposição “queermuseu”, bem como da “performance artística” do homem nu que
teve a participação de crianças. Em muitos casos essa oposição foi insuficiente
e baseada numa premissa equivocada. Acabaram dessa forma prestando tributo à
liberdade de expressão que é justamente o princípio que gerou tudo isso. Não há
como apagar o fogo com gasolina, é preciso negar o princípio se quisermos
evitar as conseqüências. Não adianta continuar defendendo a liberdade de
expressão e querer que os resultados sejam diversos.
Disseram, por exemplo, que se fosse para
adulto não haveria problemas, que o erro estava em envolver crianças. Não! O erro
está nessa “arte” em si e não apenas no modo como foi exibida. Explico: aquelas
“obras de arte” são perversas em si mesmas e simplesmente não deveriam existir.
Quando são expostas ao público adulto o erro se agrava e quando são expostas ao
público infantil se agrava ainda mais. Muitos acreditam que o erro está apenas
na exposição ao público infantil, ou seja, tomaram um agravante do erro como se
este fosse o próprio erro. É como se alguém tivesse roubado a um adulto e a uma
criança e alguém viesse dizer: “roubar adulto tudo bem, mas roubar criança já é
demais!”
Mesmo que se diga que o adulto foi porque quis e blá,
blá, blá, ainda assim está errado, pois é evidente que pode haver erros nas
ações voluntárias. Repito: esse tipo de obra não deveria existir, quem as criou
está errado; quem as prestigia está errado; as autoridades que as permitem
estão erradas; as leis que por ventura as permitem estão erradas também. E não
me venham mais dizer que o erro foi apenas a exposição ao público infantil, pois
essa ousadia diabólica de expor para as crianças é uma conseqüência lógica da
permissão que se deu ao longo do tempo a essas obras perversas. O mal é uma
árvore que cresce muito rápido, não é possível apenas podar os seus galhos, é
preciso cortá-la pela raiz. A liberdade de expressão é um dos adubos dessa
árvore que agora dá os seus frutos: blasfêmia, incentivo à pedofilia, incentivo
á zoofilia, incentivo ao homossexualismo. Aí então alguns apenas querem proibir
que as crianças comam tais frutos, enquanto acham lícito permitir que os
adultos deles se fartem. Não! É preciso atacar a raiz. Esses frutos matam, e
matam crianças e adultos, e embora matar crianças seja mais grave, devemos
lembrar que os adultos também possuem almas e são eles que educam as crianças,
portanto quem está realmente preocupado com as crianças devem defender que tais
exposições são absolutamente perversas e simplesmente não deveriam existir.
Observação:
Para
escrever este texto não me valho da “liberdade de expressão” em seu sentido
moderno, mas da liberdade que a verdade possui. A verdade está acima de nós e
se eu disse algo de errado, desde já renuncio, pois como já disse o erro não
possui direitos.