Dedico
este artigo aos católicos que conhecem o Rosário, já ouviram falar abundantemente
de seus benefícios e estão convencidos deveras de que essa arma é poderosa; não
obstante, desgraçadamente, não possuem o hábito de rezá-lo todos os dias.
Não pretendo ofender, mas exortar;
não ferir, mas ajudar na cura; não julgar, mas auxiliar em um exame de
consciência sobre este ponto.
Não é possível imaginar alguma
justificativa plausível para essa negligência em certos casos. Veja:
1-
Acredita Vossa Senhoria que o terço é um meio seguro de alcançar a salvação?
Resposta:
Sim.
2-
Reza então Vossa Senhoria o terço todos os dias?
Resposta:
Não.
Acredito que as duas perguntas acima
reflitam o caso de muitos. Confesso que tenho dificuldade em entender tal
fenômeno, e sinto diante dele certa indignação. Mas a indignação por si só nada
resolve, é preciso tentar entender os problemas e apontar, na medida de nossas
capacidades, algum remédio. Creio que refletir sobre essa negligência e chamar
a atenção para ela já seja, de certa forma, uma parte da solução.
Para os que já possuem certa
caminhada no catolicismo; conhecem a crise pós conciliar pela qual a Igreja
passa; ouviram palestras sobre o Rosário; ouviram inúmeras recomendações para
que se o reze; enfim, para os que possuem uma consciência amplamente
esclarecida a esse respeito, o fenômeno se apresenta ainda mais insólito. Para
esses tais a condescendência ainda poderia talvez encontrar justificativas para
não rezar o Rosário completo (os quinze mistérios), posto que um pouco árduo;
para não haver adquirido tais e tais virtudes, por se tratar de difíceis aquisições;
para não se confessar com freqüência, pois é preciso fazer o exame de
consciência, procurar um padre etc. Entretanto, por maior que seja a
condescendência, não é possível justificar com facilidade o fato de ainda não
haverem sequer adquirido a prática do terço (cinco mistérios) diário.
Será cegueira? Preguiça? Falta de
Fé? Tudo isso ao mesmo tempo? Podem ter certa influência, mas não creio que
sejam as causas principais; não se forem consideradas pelo prisma puramente
natural. Cegueira? Não o creio. Há pessoas que conhecem bem o poder do terço,
ao menos conhecem teoricamente e esse conhecimento teórico já seria o suficiente
para que abraçassem essa prática tão simples e ao mesmo tempo tão poderosa.
Preguiça? Não pode ser! Duvido muito! Pessoas ativas, trabalhadoras, solícitas
e que conhecem o terço e seus benefícios, mas não o rezam. Falta de Fé? Pouco
provável. Não é preciso uma Fé tão firme para abraçar essa prática tão salutar.
As pessoas às quais me refiro talvez possuam Fé muito mais que o suficiente
para rezar o terço todos os dias e ainda assim não o rezam.[1]
Há algo, no entanto, que podemos
afirmar com certeza: o arqui-inimigo do homem odeia o Rosário. Apontar o Diabo
como causa de um mal é um truísmo. Há, no entanto, truísmos que precisam ser
constantemente relembrados. Que o terço é uma arma poderosa também é um truísmo
para muitos, e quão poucos agem de acordo com essa obviedade! O Demônio
esforça-se para afastar as pessoas da piedosa prática de rezar o terço. E para
isso usa de mil e um estratagemas. Cega a pessoa? Cega-a, evidentemente. Mas não
de qualquer cegueira, mas de uma cegueira particularmente diabólica que deixa
permanecer a inteligência que serve ao mundo e faz não ver um palmo na frente
do nariz no que se refere à vida espiritual e ao fim último do ser humano. Faz
a pessoa ter preguiça? Sim. Mas não qualquer preguiça, mas uma preguiça
particularmente diabólica que deixa permanecer um ânimo excepcional para
divertimentos e afazeres variados, mas produz uma languidez mórbida no que se
refere à salvação da alma. Obviamente o demônio utiliza-se também de nossa
natureza decaída, que é célere para as coisas do mundo e extremamente lenta
para as coisas de Deus.
Há muito que progredir na vida
espiritual e no amor a Deus. Rezar apenas um terço por dia não é o ideal; rezar
o Rosário inteiro (quinze mistérios) é mais perfeito. E isso ainda não é tudo. Uma
série de outras coisas pode ser feitas e um grau muito alto de perfeição pode
ser alcançado pela graça de Deus. Mas é possível dizer que a partir do Rosário
poder-se-ão alcançar todas essas outras coisas necessárias para a vida
espiritual. E para não ficar isso baseado nas minhas palavras, cito agora uma
obra intitulada “O poder admirável do Santo Rosário”[2]:
“Vejamos
os benefícios que São Luís Maria Grignion de Montfort nos aponta, entre outros,
para os que rezam o Rosário e ao mesmo tempo meditam seus Mistérios:
1. Obteremos de Deus toda
espécie de graças;
2. Nossas almas serão
purificadas do pecado;
3. Venceremos nossos
inimigos;
4. Teremos mais facilidade
na prática da virtude;
5. Seremos mais abrasados no
amor de Jesus Cristo;
6. Seremos insensivelmente
elevados ao perfeito conhecimento de Jesus Cristo;
7. Seremos habilitados a
pagar nossas dívidas para com Deus e os homens.
(Cfr. Obras de San Luis Maria Grignion de Montfort, El
secreto admirable del Santissimo Rosario, Biblioteca de Autores Cristianos,
Madrid,1954, p. 353).
Transcrevemos a seguir as promessas feitas por Nossa
Senhora a São Domingos de Gusmão e ao Beato Alano de la Roche:
1. A todos aqueles que
recitarem devotamente o meu Rosário, eu prometo minha proteção toda especial e
graças imensas.
2. Quem perseverar na
recitação do meu Rosário receberá graças assinaladas.
3. O Rosário será uma
armadura muito poderosa contra o inferno; ele destruirá os vícios, libertará do
pecado, dissipará as heresias.
4. O Rosário fará florescer
as virtudes e as boas obras e obterá para as almas as misericórdias divinas as
mais abundantes; ele substituirá dentro dos corações o amor de Deus ao amor do
mundo, elevando-os ao desejo dos bens celestes e eternos. Quantas almas se
santificarão por este meio!
5. Quem se confiar a mim
através do Rosário, não se condenará jamais.
6. Quem recitar piedosamente
o meu Rosário, contemplando os seus mistérios, não será prostrado pelo mal. Se
for pecador, ele se converterá; se for justo, ele crescerá em graça e se
tornará digno da vida eterna.
7. Os verdadeiros devotos do
meu Rosário serão ajudados na hora da morte com os socorros do Céu.
8. Aqueles que recitam o meu
Rosário encontrarão durante sua vida e na hora da morte a luz de Deus, a
plenitude de suas graças e participarão dos méritos dos bem-aventurados.
9. Eu livrarei prontamente
do purgatório as almas devotas do meu Rosário.
10. Os verdadeiros filhos do
meu Rosário gozarão uma grande glória no Céu.
11. Aquilo que for pedido
através do meu Rosário, será alcançado.
12. Aqueles que propagarem o
meu Rosário serão socorridos por mim em todas as suas necessidades.
13. Eu obtive de meu Filho
que todos os confrades do Rosário tenham por irmãos, durante a vida e na morte,
os santos do Céu.
14. Aqueles que recitam
fielmente o meu Rosário são todos meus filhos bem amados, irmãos e irmãs de
Jesus Cristo.
15. A devoção ao meu Rosário
é um grande sinal de predestinação.”
Depois tomar nota de todos esses
benefícios e promessas e refletir sobre eles, não seria grave negligência
manter-se ainda afastado dessa prática tão salutar? É a pergunta cuja resposta
deixo ao encargo dos meus leitores. Tudo o que fazemos deve ser para a maior
glória de Deus. De minha parte fico feliz de poder contribuir um pouco para o
Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo e, sinceramente, ficaria feliz se
porventura um só dos que lêem este artigo fizerem o propósito de iniciar
prontamente a prática de rezar um terço ou o Rosário completo (melhor ainda)
todos os dias. Minha alegria seria ainda maior se logo ao terminar de lê-lo
fosse imediatamente rezar o Rosário. Aos que tomarem tão feliz decisão peço que
me incluam em suas orações. Salve Maria!