Por
que esperar tanto o fim da última aula? A escola se esvazia rapidamente, todos
se retiram com pressa. A escola é um ambiente péssimo! Quando a aula acaba à
noite esse ambiente melhora, pois o barulho se vai, vão-se os gritos, vão-se a
ignorância, a luxúria, a mediocridade... Resta o silêncio, as estrelas, a
escuridão calma de uma noite que se livra de uma turba medonha. A última coisa
que se presencia é a pressa, que parece ser a pressa de quem se livra do dever,
a pressa de quem quer um descanso não plenamente merecido ou então outros
prazeres. Por péssimo que seja o ambiente escolar ainda há nele deveres a serem
cumpridos e ainda há a necessidade de se obedecer à certa disciplina, é talvez
esse resquício de disciplina o que faz com que todos se apressem para
abandoná-la quando chega o fim da última aula. Por incrível que pareça, a baderna
horripilante do ambiente escolar não é o extravasamento total da mediocridade
dos que o freqüentam, pois se pudessem ainda mais barulho fariam, a mais
excessos se entregariam e ainda mais bestiais seriam.
Sinto-me alegre quando termina a
última aula, mas tento não me alegrar, tento me conter. Alegrar-me com isso
seria um vício, uma ilusão que me aprisionaria numa espécie de ciclo de
alegrias e tristezas sem o menor sentido. É sempre a mesma coisa: os que se
alegram quando chega o fim do expediente quase sempre estão desanimados quando
chega a segunda-feira; exultam na sexta, entristecem-se na segunda; exultam na
saída, entristecem-se na entrada; suspiram a não mais poder pela aposentadoria;
amam os feriados, as férias, os recessos, as aulas que se dissipam por alguma
razão extraordinária ou de força maior, e assim por diante. Constato que também
sou assim, infelizmente... Mas tento melhorar, pois vejo claramente que isso
não é bom.
Certamente o repouso é o sentido do
trabalho, e faz parte da natureza humana trabalhar para então desfrutar dos
resultados desse trabalho. Mas é insensatez ter como fim último um repouso que
não é eterno. E, em geral, nesta vida o que mais propriamente nos conduz para o
repouso eterno não é o descanso, mas o trabalho realizado por amor a Deus; não
são as conversas amenas, mas as orações; não os banquetes, mas os jejuns; não
as diversões e sim as dificuldades. O repouso e o lazer são lícitos, mas com certeza
seriam menos amados e vividos de forma diferente se o principal fim visado fosse
a glória de Deus e, consequentemente, a salvação das almas.