Dias
atrás, eu e minha esposa tomávamos café da tarde, eu havia dado algumas
bolachas para o Hugo e ele tinha ido para o pátio. Dali a alguns momentos ele
volta para nos oferecer as mesmas bolachas que havia ganhado de mim, se
aproxima da mesa perto de nós e diz com aquela fala característica de criança
aos três anos: “uma para o pai, uma para
a mãe; uma para o pai e uma para a mãe...” e assim fez até acabar as
bolachas de suas mãos. Neste momento ocorreu então algo que nos fez irromper
numa pequena gargalhada: ele olhou deveras surpreso para suas mãos vazias e
exclamou espantado: “Cadê o meu?”
Em sua idade não se é capaz ainda de
verdadeira abnegação. O Hugo quis manifestar-nos algum afeto, mas quando se deu
conta de que nada lhe havia sobrado retomou para si seu quinhão e lá se foi
para suas brincadeiras, mas não sem me deixar absorto pensando em como é linda
a abnegação, filha da caridade; como é belo o sacrifício pelo próximo!
Isso me faz lembrar de exemplos heroicos
como São Camilo de Lellis, José de Anchieta e tantos outros anjos de caridade
que ilustram a Santa Igreja. Faz-me lembrar também dos sacrifícios suportados
por pais e mães em prol de seus filhos, bem como das manifestações de
verdadeira amizade. Faz-me lembrar enfim daqueles que por amor a Deus, movidos
pela Graça, doam não só o que têm nas mãos, mas todo o seu ser sem nunca
perguntar “Cadê o meu?”
Aproveito para agradecer a Deus por
ter colocado em minha vida tantas pessoas que praticaram para comigo essa bondade
desinteressada, vejo-me envolto de todo esse amor e então contemplo a beleza
dessa bondade. Muito embora eu não seja bom, espero um dia sê-lo e então, pela
Graça de Deus, chegar a ter um coração que jamais pergunte “Cadê o meu?”.