Por Uma Intelectualidade Cristã!







sábado, 18 de maio de 2019

CADÊ O MEU?


        

            Dias atrás, eu e minha esposa tomávamos café da tarde, eu havia dado algumas bolachas para o Hugo e ele tinha ido para o pátio. Dali a alguns momentos ele volta para nos oferecer as mesmas bolachas que havia ganhado de mim, se aproxima da mesa perto de nós e diz com aquela fala característica de criança aos três anos: “uma para o pai, uma para a mãe; uma para o pai e uma para a mãe...” e assim fez até acabar as bolachas de suas mãos. Neste momento ocorreu então algo que nos fez irromper numa pequena gargalhada: ele olhou deveras surpreso para suas mãos vazias e exclamou espantado: “Cadê o meu?”
            Em sua idade não se é capaz ainda de verdadeira abnegação. O Hugo quis manifestar-nos algum afeto, mas quando se deu conta de que nada lhe havia sobrado retomou para si seu quinhão e lá se foi para suas brincadeiras, mas não sem me deixar absorto pensando em como é linda a abnegação, filha da caridade; como é belo o sacrifício pelo próximo!
            Isso me faz lembrar de exemplos heroicos como São Camilo de Lellis, José de Anchieta e tantos outros anjos de caridade que ilustram a Santa Igreja. Faz-me lembrar também dos sacrifícios suportados por pais e mães em prol de seus filhos, bem como das manifestações de verdadeira amizade. Faz-me lembrar enfim daqueles que por amor a Deus, movidos pela Graça, doam não só o que têm nas mãos, mas todo o seu ser sem nunca perguntar “Cadê o meu?”
            Aproveito para agradecer a Deus por ter colocado em minha vida tantas pessoas que praticaram para comigo essa bondade desinteressada, vejo-me envolto de todo esse amor e então contemplo a beleza dessa bondade. Muito embora eu não seja bom, espero um dia sê-lo e então, pela Graça de Deus, chegar a ter um coração que jamais pergunte “Cadê o meu?”.

sábado, 4 de maio de 2019

A PORTA ESTÁ TRANCADA?


“...um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: ‘Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar.’ José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito.” (Mateus 2, 13- 15)

            Todas as noites meu pai conferia as portas para certificar-se de que estavam de fato trancadas. Costumava tomar outros tipos de precaução como colocar travas extras. Havia, além disso, um artifício muito interessante que ele utilizava e que consistia no seguinte: ele apoiava o encosto da cadeira na porta, de modo que a cadeira ficasse equilibrada em apenas dois pés, caso um malfeitor tentasse entrar, necessariamente faria a porta mover a cadeira fazendo-a cair, causando um estardalhaço que o acordaria. Lembro também de que durante muitos anos ao chegar eu em casa à noite, vindo da escola ou da casa de algum amigo, ouvia dele inexoravelmente a pergunta “trancou o portão?” Às vezes eu o interpelava dizendo que era inútil trancar o portão, pois se o ladrão quisesse entrar ele poderia facilmente pular o muro, pois este era baixo; ele então me respondia que trancar o portão ao menos dificultaria a ação do bandido.
            Hoje quando acordo de madrugada e vejo todos dormindo profundamente, assalta-me no âmago da alma esse aspecto solitário da paternidade. Às vezes ouço barulhos que não significam nenhum perigo, mas deixam-me atento, tenso e preocupado; então imagino lutas, planejo defesas e agressões contra um malfeitor que espero nunca encontrar. Enquanto isso minha esposa e as crianças dormem tranqüila e despreocupadamente.
            Confesso que não entendia meu pai, achava desnecessária toda sua preocupação. Hoje o entendo perfeitamente e o senhor, caro leitor, o entende se já é pai ou o entenderá se um dia chegar a sê-lo. Estaremos então unidos solidariamente no augusto ofício da proteção, nesses momentos em que alertas interrogamos os barulhos da noite. São José seja sempre nosso modelo, amparo e guia. Salve Maria!