Por Uma Intelectualidade Cristã!







quarta-feira, 13 de novembro de 2019

RECORDAR É VIVER


           Há um conhecido ditado que diz “Recordar é viver”. Ora, o sentido forte e preciso do verbo “viver” é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo por amor a Deus. Eis a verdadeira vida, a vida eterna ao lado de Deus no Paraíso. A memória, assim como outras faculdades, deve contribuir para alcançar essa vida. A rigor o ditado está errado, pois “amar a Deus é viver”, mas fazendo uma interpretação mais elástica e voltada para o âmbito espiritual podemos dizer que encerra uma importante lição, pois devemos educar nossa memória para aquilo que nos é essencial.
Triste verdade é que muitos dos nossos erros são provenientes do esquecimento: esquecemos do nosso fim último; esquecemos que um dia iremos morrer[1]; esquecemos de fazer nossas orações e outros exercícios piedosos; esquecemos, enfim, do essencial. Por outro lado, não raro nossa memória mostra-se sofregamente atenta às bagatelas, ao secundário e às futilidades. Lembra com muita antecedência dos divertimentos, mas esquece dos deveres que se referem à nossa salvação. A memória nos denuncia, nos julga, nos aprova ou condena; fazendo uma alusão ao evangelho poderíamos dizer que onde está sua memória aí está o seu coração. Se nos lembramos sem esforço dos nossos exercícios de piedade é porque já formamos um hábito, sinal de que nos são importantes; se nos esquecemos deles com frequência é sinal claro de que estão relegados a segundo plano.
            É claro que às vezes nos lembramos do que gostaríamos de esquecer e nos esquecemos daquilo que sinceramente dávamos importância. A memória tem seus caprichos. Porém não se pode negar que na maior parte das vezes ela nos mostra de fato onde estão os nossos interesses.
            Se nos esforçarmos para realmente levar a sério as coisas de Deus a memória certamente virá em nosso auxílio, mas nada nos impede de utilizar lembretes externos caso sejam necessários. A graça, que aperfeiçoa a natureza, também ajudará nossa memória; Deus mesmo nos lembrará do essencial, para que assim como nós não saímos jamais de sua Memória esteja também Ele constantemente na nossa. Ave Maria puríssima!


[1] Há um adágio católico que diz “Pensa na morte e não pecarás”, a este respeito há um artigo meu no link http://intelectualidadecrista.blogspot.com/2019/02/vossa-senhoria-morrera.html

domingo, 3 de novembro de 2019

POSTE, ÁRVORE, CASA E MURO


Os postes parados
As árvores não
As casas paradas
As árvores não
Muros parados
As árvores em movimento.

As árvores vergam-se
Os muros não
As árvores balançam
As casas não
As árvores se agitam
Os muros permanecem imóveis.

Parados diante de quê? Diante de que em movimento?
Vento...
Um vento forte, acompanhado de chuva e de um céu com menos luz.
Dentre tantas coisas para se notar
Noto esta pequena coisa: o movimento e o repouso.
E como repousam os muros, as casas e os portões?
Como se o vento não existira.
Não fosse senti-lo em meu rosto
Nenhum deles me contaria do vento.
E como se movimentam as árvores?
Reagem ao vento cada uma a seu modo.
Os coqueiros trêmulos;
As mangueiras pesadamente
As araucárias como pêndulos.
Ainda que não sentisse o vento em meu rosto,
Elas me acusariam sua existência.
E cada qual como uma criança com distinta personalidade
Cada qual na sua empolgação peculiar narrariam,
Sôfregas, a um só tempo, algo de extraordinário.

Que posso desejar ao olhar para isso tudo?
Desejo enfrentar o vento forte.
Desejo em mim reunidos o poste, a casa, a árvore e o muro.
Casa para proteger;
Árvore pela mansidão e flexibilidade;
Muro para delimitar
E poste para indicar o Céu.