“Mas o que é Tradição?
Parece-me que, com freqüência, a palavra é imperfeitamente compreendida:
comparam-na às tradições como existem nas profissões, nas famílias, na vida
civil: o buquê fixado sobre a cumieira da casa quando se coloca a última telha,
o cordão que se corta para inaugurar um monumento etc. Não é disto que eu falo;
[...] A tradição se define como o depósito da fé transmitido pelo magistério de
século em século.” (Mons. Marcel Lefebvre, Carta Aberta aos
Católicos Perplexos).
“Não vos deixeis iludir,
caros leitores, pelo termo ‘tradicionalista’ que se tenta fazer tomar em mau
sentido. É de certo modo um pleonasmo, pois não vejo o que pode ser um católico
que não fosse tradicionalista. Creio tê-lo demonstrado neste livro, a Igreja é
uma tradição. Nós somos uma tradição. Fala-se também de ‘integrismo’; se se
entende com isto o respeito da integridade do dogma, do catecismo, da moral
cristã, do Santo Sacrifício da Missa, então sim somos integristas. Mas eu não
vejo como possa ser católico quem não fosse integrista neste sentido”. (Mons.
Marcel Lefebvre, Carta Aberta aos Católicos Perplexos).
“(...) A Igreja, que jamais
traiu o bem dos povos com elogios comprometedores, não deve esquecer o passado
(...) basta retomar com o concurso dos verdadeiros trabalhadores a restauração
social dos organismos atingidos pela Revolução e adaptá-los, com o mesmo
espírito cristão que os inspirou, ao novo cenário criado pela evolução material
da sociedade contemporânea, pois os verdadeiros amigos do povo não são os
revolucionários nem os inovadores, mas os tradicionalistas”.
(Papa São Pio X, citação encontrada na obra “Do Liberalismo à Apostasia” de
Mons. Marcel Lefebvre).
Como é sabido, o Concílio Vaticano
II causou uma crise que é considerada como a pior já enfrentada pela Igreja.
Mas Deus, que nunca a abandona, suscitou verdadeiros católicos para esse
terrível combate. E quem são esses combatentes senão os tradicionalistas? E
ainda: o que significa ser tradicionalista? Nada mais que ser continuador do
que a Igreja sempre foi, de modo que ao ouvir um tradicionalista atual não
notamos nenhuma diferença essencial em relação àquilo que os grandes católicos
disseram no passado. O termo — tradicionalista —, embora seja pleonástico como
aponta Mons. Lefebvre, serve para colocar alguma ordem no caos em que se tornou
o orbe católico. Aqueles, portanto, que procuram guardar e seguir a Fé
Católica, tal qual ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo, são tradicionalistas.
A eles presto a seguir minha homenagem.
Tudo o que direi a seguir sobre os
tradicionalistas atribuo em primeiro lugar à Graça de Deus, pois Nosso Senhor
nos diz que sem Ele nada podemos fazer. Feita esta importante ressalva, faço a
seguir o meu elogio.
Falemos primeiramente do Catecismo
de São Pio X. Certamente essa pequena obra ajudou muitos a adquirir uma Fé
sólida e um conhecimento muito satisfatório da Doutrina Católica. Quem se
debruçou seriamente sobre ele, buscando decorar suas respostas sucintas e
esclarecedoras, saberá do que estou falando; e saberá mais ainda se buscou
incuti-lo em seus filhos, estudando-o em família. A difusão de tal catecismo,
ninguém o poderá negar, foi em grande medida obra dos tradicionalistas.
Entre muitas outras realizações no
campo do conhecimento, não podemos esquecer que mantiveram Santo Tomás no
verdadeiro pedestal que ele merece.
Foi pelos tradicionalistas que, para
muitos, o terço deixou de ser um mero objeto ornamental pendurado em algum
lugar da casa para tornar-se uma verdadeira arma de conversão e santificação.
Eles propagaram insistentemente a recitação do Santo Rosário, ensinaram a força
e a importância dessa oração e a partir disso muitos puderam ver na prática a
eficácia dessa devoção. Além desta, propagaram também muitas outras devoções,
como a entronização do Sagrado Coração de Jesus, mediante a qual Cristo é
entronizado no lar como Rei de Amor.
Eles propagaram obras consagradas do
catolicismo como: Filoteia, Exercícios Espirituais, Tratado da Verdadeira
Devoção à Santíssima Virgem, Imitação de Cristo e tantas outras. Lembrando-nos
assim de uma verdade hoje tão esquecida: é preciso freqüentar boas leituras e
rechaçar as más.
Mantiveram os ensinamentos sobre a
modéstia e tantos outros pontos esquecidos da moral católica. Combatendo sempre
os maus costumes e recordando-nos de que a moral não muda ao sabor dos tempos,
aliás em sua essência não muda de forma alguma, pois a Lei de Deus é eterna.
Os tradicionalistas ergueram num
estandarte a grandeza da Santa Igreja, ensinando enfaticamente que fora dela
não há salvação.
Foi com eles que muitos aprenderam
que os sacramentos são verdadeiros transmissores da Graça e não meros símbolos.
Não deixaram que fosse esquecido o verdadeiro caráter da Santa Missa:
verdadeiro Sacrifício oferecido a Deus Pai; ensinaram com o exemplo, com a
prática e com insistentes admoestações que a Santa Missa merece a máxima
reverência. Expuseram com clareza meridiana os problemas da missa nova e as
razões pelas quais deve ser rejeitada. Eles mantiveram neste mundo, pela Graça
da Deus, a dignidade do culto que é devido a Deus, mantiveram a Missa de
Sempre. Devido à sua coragem e intransigência, o culto católico tradicional é
uma realidade vivida por muitos e desejada por outros tantos que, por inúmeras
razões, ainda não têm acesso a tamanha graça.
E assim os tradicionalistas me
ensinaram a ser católico, e foi como aprender com os próprios apóstolos, não
porque tenham aqueles a mesma excelência que estes, mas porque a Doutrina é a
mesma. E foi assim, para concluir, que tornei-me eu, por minha vez,
tradicionalista, juntamente com minha família, para a Glória de Deus e de Sua
Igreja.
Eis aí aqueles pelos quais Nosso
Senhor renova a promessa de que as portas do inferno não prevalecerão contra a
Igreja. Eis aí, os heróis da Igreja, Rezemos para que cresça o alcance daqueles
que mantêm a devida fidelidade ao depósito da Fé; a ordem de Cristo para que se
batize e se ensine todos os povos fala-nos hoje com especial eloquência. Contemplar
a ação dos tradicionalistas na história recente é contemplar a continuação
daquele farol que conduz a história da Igreja em seus dois milênios de
existência, é nada mais que assistir a continuação da Igreja; é além disso,
contemplar o modo como Deus, valendo-se de um número tão reduzido humilha o
inimigo e faz brilhar tão fulgurantemente a Sua Igreja. O que me faz lembrar do
modo como meu filho de quatro anos responde uma questão da catequese: “— O que
é a Santa Igreja Católica?; — A Igueja do
Deus, a verdadeira dEle.” Assim, fazendo eco aos mencionados heróis,
responde em sua candura infantil esse pequeno tradicionalista. Ave Maria
Puríssima!