Qualquer
um que tenha ao menos um pouco de clareza intelectual e a utilize para entender
o mundo atual sabe que o relativismo é um dos seus princípios fundamentais. É
considerado, em geral, falta de educação dizer que alguém está errado sem antes
desculpar-se e dizer que respeita sua opinião. A tudo que se vai dizer é
exigido um “na minha opinião” antes, ainda que seja a obviedade mais patente.
O relativismo diz que a verdade
absoluta não existe para então tornar-se ele próprio a verdade absoluta. A
conseqüência do relativismo foi dar aos erros os privilégios que são próprios
da verdade e do bem. Vamos aos exemplos: a democracia é o “dogma” político por
excelência, não se pode atacá-la, é um valor absoluto a ser defendido. Ora,
esse é um privilégio da verdade, logo a democracia desfruta do privilégio que
só caberia à verdade. A liberdade de dizer falsidades, heresias, blasfêmias é
outro dogma atual que goza de ampla proteção.
A proteção merecida que se deveria
dar ao bem e à verdade é dada ao mal e à mentira. O respeito a todas as falsas
religiões alia-se ao desrespeito para com a única religião verdadeira; o
respeito a todas as opiniões atrela-se ao desrespeito para com a verdade; o
respeito destinado às falsas liberdades vem junto com o desrespeito pela única
liberdade verdadeira, que é a liberdade de praticar as virtudes e amar a Deus
sobre todas as coisas.
Infelizmente muitos que combatem
contra a esquerda utilizam esses falsos princípios para atacá-la e então
protestam dizendo que a esquerda não é tolerante, que a esquerda não é
democrática, que a esquerda não aceita quem pensa diferente, etc. A palavra
“intolerante” não diz nada, pois o que importa é o que se tolera e o que não se
tolera. A esquerda tolera e incentiva: o aborto, o homossexualismo, a
criminalidade, etc. Por outro lado a esquerda é intolerante com a família tal
qual Deus a criou, com o patriotismo e com os princípios católicos em geral.
Portanto usar esses conceitos amplamente difusos na “opinião pública” não nos
ajuda a compreender as coisas como elas são e ainda acaba nos tornando reféns
da própria mentalidade que visamos combater.
É com tristeza que vejo alguns,
tentando aparentemente fugir do rótulo de “homofóbicos”, exercerem certa
condescendência imprópria com homossexuais ostensivos. Chegam então a dizer que
o problema não é o homossexualismo, mas apenas a promoção desta prática nas
escolas. Se não queremos que seja promovido nas escolas é porque se trata de
uma imoralidade, simples! Mas há aqueles que querem ser “tolerantes” e então
caem nesta contradição flagrante: o problema não é ser homossexual o problema é
ser ativista homossexual e querer doutrinar as crianças[1].
O erro aqui é o seguinte: abre-se mão de um princípio moral para não ser
rotulado de “homofóbico”. A solução que vejo para essa questão é a seguinte: o
homossexualismo é uma imoralidade e isso nunca pode ser esquecido, portanto
deve ser dito e não minimizado, não se pode dar a entender que seja uma postura
aceitável. Os homossexuais que não queiram abandonar suas práticas devem ao
menos ter a consciência de que não devem alardear isso como algo correto. Não é
possível lutar a favor da família tradicional, do catolicismo e ao mesmo tempo
ser condescendente com práticas imorais. Reconheço que seja legítimo que alguns
homossexuais estejam descontentes com a esquerda e queiram uma situação em que
os princípios morais sejam mais respeitados, mas cabe a eles lutar contra os
seus vícios e terem a caridade de não propagar a imoralidade.
A campanha do Haddad ilustra esse
emaranhado relativista e confuso. Aqueles que sempre atacam o sentimento patriótico,
agora apelam para esse sentimento e usam um logotipo verde e amarelo; aqueles
que sempre falam em direitos humanos e desencarceramento querem ver seus
adversários na cadeia; Aquele que representa os que seguem Karl Marx que dizia que
“a religião é o ópio do povo” agora vai à Igreja e como se não bastasse sua
hipocrisia comete o terrível sacrilégio de receber o Santíssimo Sacramento;
Negam a verdade absoluta, mas acusam os adversários de propagarem “fake news”.
O que é isso? Será inconsciência
pura e simples dos próprios atos? Será a idéia de que é necessário e permitido
mentir para atingir um objetivo bom? Seria a idéia de que é preciso fingir que
existe uma verdade absoluta para que triunfe uma “verdade relativa”? Qual é o
fim último que visam? Será que acreditam no que dizem? Não sei o que se passa
na cabeça dessas pessoas.
A esquerda pode tranquilamente, pois
tem amplo apoio para isso, pregar uma coisa e depois fazer exatamente o oposto.
E parece ser a única que tem esse privilégio. Pode pregar contra a violência e
depois praticá-la ou apoiá-la, pois sua violência é a única que é do bem; podem
exigir tolerância, mas deve-se lembrar que essa tolerância é para ela mesma e
não para os “intolerantes”.
Não nos enquadremos entre tolerantes
ou intolerantes; democráticos ou autoritários, pois isso não quer dizer nada.
Sejamos simplesmente católicos e pratiquemos as virtudes tais quais as
conhecemos racionalmente: Fé, Esperança e Caridade; Prudência, Temperança,
Justiça e Fortaleza. É isso e acabou! O resto é esse papo efeminado que ouvimos
por aí.
[1]
A faixa etária não muda aqui a natureza moral do ato, pois a promoção de
condutas imorais não se torna lícita pelo fato de ser difundida em uma suposta faixa
etária “adequada”.