Comecemos
por definir a ansiedade. Parece-me que a ansiedade tem dois tipos principais: o
primeiro tipo é uma espécie de medo; o segundo tipo é uma mera agitação, um
desejo de que algo ocorra logo. Concentrar-me-ei no primeiro tipo, que é o que
verdadeiramente causa sofrimento. Se a ansiedade da qual nos ocuparemos é uma
espécie de medo, definamos também a este de modo simples. O medo é uma sensação
dolorosa que se sente diante de uma ameaça. Essa ameaça pode ser remota,
provável ou iminente e tem graus variados de gravidade. A ansiedade, por sua
vez, é um medo fraco que acelera o coração, deixa em estado de alerta e incapaz
de sentir sensações agradáveis (ao menos em parte); possui também a
característica de estar sempre acompanhada
de certa angústia. Geralmente a ansiedade é prolongada e não se sabe dizer o
seu porquê; porém às vezes possui um motivo especifico e nesse caso, geralmente
só dura até iniciar-se o acontecimento que se temia. A ansiedade é
potencializada pela imaginação desordenada, pois esta representa vivamente
situações hipotéticas que amedrontam.
Cito agora um belo trecho de São
João Maria Batista Vianney (Santo Cura d”Ars): “Quer queira, quer não, há que
sofrer. Há uns que sofrem como o bom ladrão, e outros como o mau. Ambos sofriam
igualmente. Mas um soube tornar os seus sofrimentos meritórios; e o outro
expirou no desespero mais horrendo. Há dois modos de sofrer: sofrer amando e
sofrer sem amar. Os santos sofriam tudo com paciência, alegria e perseverança,
porque amavam. Nós, nós sofremos com cólera, despeito e enfado, porque não
amamos. Se amássemos a Deus, seríamos felizes de poder sofrer por amor d’Aquele
que se dignou sofrer por nós. No caminho da Cruz, meus filhos, só o primeiro
passo custa. É o temor das cruzes que é a nossa maior cruz...
Não se tem a coragem de carregar a
própria cruz, faz-se muito mal; porquanto, façamos o que fizermos, a Cruz nos
apanha, não lhe podemos escapar. Que
temos então a perder? Por que não amarmos as nossas cruzes e nos não servirmos
dela para irmos para o Céu?... Mas, ao contrário, a maioria dos homens volta as
costas às cruzes e fogem diante delas. Quanto mais correm, tanto mais a Cruz os
persegue, tanto mais os fustiga e os esmaga de pesos... Se o bom Deus nos manda
cruzes, nós nos agastamos, nos queixamos, murmuramos, somos tão inimigos de
tudo o que nos contraria, que quereríamos sempre estar numa caixa de algodão;
mas é numa caixa de espinhos que nos deveríamos pôr.”[1]
É impossível viver sem sofrer. Mas
há sofrimentos e sofrimentos. Há sofrimentos decorrentes de situações reais e
há sofrimentos decorrentes da imaginação. Geralmente a ansiedade é proveniente
de tomar por reais meras hipóteses que não sabemos se ocorrerão ou não, por
isso é preciso livrar-se dela e agora vamos aos remédios que devem ser
empregados para tanto.
Muitos dos nossos sofrimentos
perduram por não usarmos as armas de que dispomos, por isso é importante
conhecê-las e aprender a manejá-las. Outro empecilho é o esquecimento: prolongamos
certos sofrimentos que poderiam ser evitados pelo simples fato de que nos
esquecemos de combater.
Qual poderia ser o remédio principal
senão a oração?[2] O
terço é uma arma poderosíssima e quem experimentar dessa arma poderá comprovar
os seus efeitos. O terço nos ajuda a alcançar o Paraíso, e pode facilmente nos
ajudar também no combate à ansiedade.
Santa Teresa d’Ávila dizia que a
imaginação era a louca da casa. É preciso, portanto, não dar ouvidos às
desordens da imaginação.
A disciplina afugenta a ansiedade,
pois esta aumenta quando se perde tempo e quando se procrastina os deveres.
A ansiedade chega a desaparecer
quando se consegue concentrar em alguma atividade útil, pois então se esquecem
as situações hipotéticas que amedrontam. Conversar com amigos também faz com que
a ansiedade desapareça, pelo mesmo motivo apontado no caso anterior. Respirar
bem fundo alivia por instantes a sensação corporal causada pela ansiedade, mas
não ajuda muito. Caminhadas e exercícios físicos também podem ser um bom
auxílio.
Pensamentos inspiradores de ânimo e
força também ajudam, pois, influenciando nossos sentimentos, nos movem a lutar.
Por outro lado o sentimentalismo contribui para causar a ansiedade, pois
enfraquece o caráter.
Lembremos sempre do poder supremo
que Deus exerce sobre todas as coisas e peçamos a ele a virtude cardeal da
fortaleza para podermos superar as nossas dificuldades. Isso aumentará a nossa
confiança em Deus e nos ajudará a superar a ansiedade, pois esta, na maioria
das vezes, decorre de uma deficiência na confiança que temos em Deus. Citarei
agora uma passagem do evangelho que deve ser lida, relida, decorada e meditada;
pois aquele que, com a graça de Deus, lograr pôr em prática toda a sabedoria
que ali se encerra, certamente eliminará de sua vida muitos sofrimentos
inúteis.
“Ninguém pode servir a dois senhores, porque
ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não
podeis servir a Deus e à riqueza. Portanto, eis que vos digo: não vos
preocupeis por vossa vida, pelo que comereis nem por vosso corpo, pelo que
vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as
vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros
e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de
vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua
vida? E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios
do campo: não trabalham nem fiam. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão
no auge de sua glória não se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva
dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós,
homens de pouca fé? Não vos aflijais, nem digais: que comeremos? Que beberemos?
Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora,
vosso pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o
Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em
acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá
as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.” (Mateus 6,
24-34).
[1] Recebi
este trecho pelo celular e não sei dizer em que livro se encontra.
[2]
De modo algum se pretende aqui reduzir o papel da oração a um mero artifício ou
a um mero remédio psicológico. O principal fim da oração é obter as graças de
Deus tendo em vista amá-Lo por toda a eternidade no Paraíso. Podemos, obviamente,
recorrer a Deus pedindo ajuda para nossos problemas terrenos, mas nunca devemos
perder de vista o nosso fim último.